Esse artigo foi originalmente publicado no LinkedIn em 8 de Janeiro de 2019, quando chegamos ao nosso primeiro bilhão de linhas processadas pela plataforma. Hoje, em 31 de Outubro desse mesmo ano, processamos esse mesmo volume diariamente!
Onward!
Eu esperava publicar esse artigo mais cedo.
A Kondado está há quase 2 meses operando e atingimos no início do ano 1 bilhão de linhas processadas pela nossa plataforma (rumo à 1.2 bilhão nas próximas horas!).
Eu achava que iríamos atingir esse volume em algum ponto em dezembro, mas como acompanhamos o volume de dados gerados pelas operações dos nossos clientes, a sazonalidade do final de ano começou a se mostrar já no dia 23/12 e o nosso volume de processamento seguiu a mesma tendência.
Tomamos esse tempo de calmaria para avançar a construção da nossa plataforma e deixar ainda mais fácil para os nossos clientes a tarefa de tomar decisões com as informações geradas em mais de 30 ferramentas.
Entre arquitetura de dados, cruzamento de informações, setup de servidores, sistemas de dashboards e todo o trabalho que temos para deixar o acesso às próprias informações o mais simples possível para os nossos clientes, não pude deixar de parar para refletir sobre como o sucesso ou queda das empresas depende de uma boa estratégia, suportada por uma execução excelente – nessa ordem de grandeza.
O meu lugar favorito para aprender sobre estratégia e execução nunca foram os livros mais recentes dos gurus best-sellers do New York Times, e sim livros de História e Biografias. Não que os gurus não tenham os seus méritos, mas sou o tipo de pessoa que precisa ver para crer e nenhum lugar melhor para isso do que erros e acertos reais que foram devidamente documentados e analisados.
Nesse final de ano, li um pouco mais sobre o papel da logística na Guerra Civil Americana. Mais especificamente, li sobre… trens!
Aprendi sobre a bitola ferroviária e como o tipo de bitola utilizada foi vital para a vitória do Norte sobre o Sul. Para quem não sabe o que é bitola, a wikipedia diz que é “a largura determinada pela distância medida entre as faces interiores das cabeças de dois trilhos […] em uma via férrea.”. Em bom português, é o espaço entre as barras de ferro dos trilhos.
Para entender como o tipo de bitola ajudou o Norte a ganhar a Guerra contra o Sul, é preciso lembrar que:
- Trilhos de trem são fixos – não é possível aumentar ou diminuir a bitola com facilidade
- Um vagão feito para uma bitola de determinada largura não consegue trafegar em uma ferrovia com outra bitola – as rodas simplesmente não irão encaixar nas barras de ferro.
Então, imagine que um comboio carregado de soldados precisa trafegar 100 Km para chegar ao campo de batalha e metade da ferrovia possui bitola de 1.6 metros e a outra metade bitola de 1.4 m. Se o comboio possuir bitola de 1.6 metros, ele pode trafegar os primeiros 50 Km da ferrovia. Mas, eventualmente, chegará o momento da quebra de bitola, onde os seus vagões simplesmente não cabem na outra metade do caminho.
A solução mais simples para esse problema é trocar de comboio. O primeiro comboio trafega os primeiros 50 Km e, quando chegar o momento da quebra de bitola, haverá um novo comboio esperando para que os soldados desçam e embarquem no comboio com bitola de 1.4 metros para prosseguir viagem. É uma solução bem lógica, mas imagine os problemas que ela traz:
- É necessário um grande esforço de coordenação para que o horário de chegada e partida dos dois comboios sejam próximos. Se o primeiro comboio chegar e outro comboio não estiver lá, os soldados precisarão esperar, perdendo tempo que poderiam estar usando no campo de batalha. Se o novo comboio já estiver lá esperando, está gastando tempo que poderia ser usado levando outros batalhões para outros campos de batalha.
- Os soldados precisam efetivamente trocar de comboio. Sair de um e entrar em outro. Soldado por soldado. A situação piora se forem suprimentos e munições: atravessadores precisavam descarregar um trem para colocar a carga em outro.
Durante boa parte da Guerra Civil, o Sul precisava ter essa coordenação para levar suprimentos, munições e soldados para os campos de batalha. O desenvolvimento da malha ferroviária desses estados deu-se de acordo com a necessidade de levar diferentes tipos de carga para portos ou locais de comércio e com o princípio do laissez faire – apenas companinhas privadas construíam ferrovias e podiam fazer como quisessem, sem a interferência do governo. Cargas mais pesadas (como minérios), precisavam de bitolas maiores, que dessem conta do peso transportado e cargas mais leves podiam trafegar sobre bitolas menores, não sendo necessário gastar dinheiro com material adicional. O resultado foi que, no início da Guerra Civil, o Sul tinha mais de 15,000 Km de ferrovias com bitolas que variavam entre 600 cm e 1.8 metros!
Enquanto isso, no Norte, a construção de ferrovias era mais padronizada, com trilhos de 1.4 metros (bitola padrão). No início da guerra, o governo tomou o controle sobre os quase 35,500 Km de trilhos com bitolas padronizadas e deu incentivos para que as empresas continuassem construindo mais trilhos.
Apesar de toda a genialidade do general Robert E. Lee comandando as tropas sulistas, os seus soldados demoravam mais para chegar nos campos de batalha, enquanto o Norte recarregava suprimentos, munições, trazia soldados ao front e levava feridos para hospitais de campanha como uma velocidade impressionante. O resultado disso foi a vitória do Norte naquela que ficou conhecida como a primeira guerra das ferrovias. Para se ter uma idéia, no final da guerra, os Estados Unidos possuía mais ferrovias que o restante do mundo somado.
E o que isso tem a ver com a sua empresa?
Pense em como o Sul encarava as suas ferrovias: cada cidade e empresa podia construir a ferrovia da maneira que quisesse. E assim o faziam.
Imagine duas cidades sulistas vizinhas, Marketing e Vendas. A cidade de Marketing era operada pela empresa RailSpot para levar minérios ao porto com bitola de 1.8 metros. Enquanto a empresa RailsForce operava logo ao lado, na cidade de Vendas, levando algodão em uma bitola de 600 centímetros.
Tudo funcionava muito bem. Então começou a guerra. Marketing se transformou no maior pólo de munições do Sul, afinal estava próximo do minério, enquanto Vendas fabricava uniformes para o exército sulista.
Uma batalha começou a ser travada próximo à cidade de Vendas, que fazia fronteira com o Norte. Marketing enviava continuamente vários comboios de munições para Vendas. Ao chegar na quebra de bitola, a RailSpot enviava seus atravessadores para descarregar os trens que vinham de Marketing e a RailsForce tinha outros atravessadores para carregar os trens que iriam para Vendas.
Enquanto isso, os soldados sulistas que batalhavam em Vendas já estavam com metade do seu arsenal parado por falta de munição. Os generais do Sul não conseguiam entender o que estava acontecendo, afinal, Marketing enviou uma grande quantidade de munição para Vendas.
O resultado foi que o Norte ganhou a batalha de Vendas, tomou os seus trilhos e os converteu para a bitola padrão. Seus trens agora estavam carregados de soldados indo em direção à quebra de bitola com Marketing para encontrar uma grande quantidade de munição gratuita que ainda estava terminando de ser carregada em trens de bitola de 1.8 metros.
Quando se pensa apenas no que as áreas de sua empresa estão executando no dia-a-dia, é fácil (e correto) optar por ferramentas que sejam específicas para o que estão fazendo. Mas, quando se trata de tomada de decisões, desde o nível operacional até o estratégico, é necessária uma coordenação entre o que está acontecendo em todas as áreas.
A maioria das empresas consegue essa sinergia de dados contratando algumas pessoas para “baixar o relatório” das ferramentas em Excel e cruzá-las. A cada nova decisão, é necessário “atualizar o relatório”. Para decisões diferentes das anteriores, é preciso “criar um novo relatório”. Isso é muito parecido com a quebra de bitola, onde são necessários atravessadores para fazer a transferência de carga entre 2 ferrovias.
São poucas as empresas que entendem a necessidade de ter os seus dados padronizados para estarem disponíveis e acionáveis, sejam eles gerados onde forem. Essas empresas conseguem tomar decisões mais rápidas e ganhar mais batalhas em decorrência disso. Por outro lado, a concorrência ainda está esperando os atravessadores terminarem de “atualizar o relatório”.
Dados precisam se tranformar em informações, que afetam decisões, que vão gerar ações em várias áreas da empresa. Quanto mais coordenada a maneira que uma empresa lidar com os seus dados, mais rápido ela irá agir. Se a ação se mostrar errada, ela irá descobrir que errou rapidamente (fail fast), aprender e poderá agir novamente logo. Se a ação se mostrar correta, ela terá uma vantagem competitiva por ser a first mover.
Atingir uma coordenação de dados já foi extremamente complexo. Eram necessários programadores para realizar as integrações de várias ferramentas. DBAs para manter o Data Warehouse de pé, contratação de uma ferramenta de visualização de dados, treinamentos, etc.
Ah, e se inscreva na nossa newsletter ao lado!
Publicado em 2019-10-31